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Transplante de fígado

Atualizado em: 19/07/2023
Tempo de Leitura: 8 minutos
Sumário
Transplante de fígado - Imagem Ilustrativa

O transplante de fígado é um procedimento no qual um fígado doente é substituído por um fígado compatível de um doador saudável. É indicado em casos de doença hepática crônica avançada, tumores primários do fígado em estágios iniciais ou insuficiência hepática aguda. O transplante oferece a chance de sobrevida e melhora a qualidade de vida dos pacientes. Saiba mais!

O que é o transplante de fígado?

O transplante de fígado é o tratamento definitivo para a doença hepática crônica em estágio terminal, a falência hepática aguda (hepatite fulminante) e o câncer primário do fígado (carcinoma hepatocelular) — dentro de critérios pré-definidos. 

O procedimento consiste na substituição do órgão doente por um novo fígado de doador falecido ou vivo. Usualmente o novo órgão é alocado na mesma posição do órgão antigo, no hipocôndrio direito (na parte superior direita do abdome), e, por isso, é chamado de transplante ortotópico de fígado.

O objetivo do transplante de fígado é aumentar o tempo de sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente. Isto, através da cura da doença hepática pela substituição por um órgão sadio. Atualmente, a meta dos serviços de transplante é que 85 a 90% dos pacientes transplantados sobrevivam um ano após o procedimento e que 75% deles sobrevivam até 5 anos.

Como é realizado o transplante de fígado?

O transplante de fígado é uma operação complexa e apresenta duração média estimada de 6 a 8 horas, podendo durar mais ou menos tempo a depender da presença de complicadores técnicos e/ou da severidade da doença hepática — por exemplo, pacientes com cirurgias prévias, casos de retransplante, trombose de veia porta, entre outros.

A incisão é realizada no abdome e seu formato depende da preferência do cirurgião e, às vezes, da causa da doença hepática (como é o caso da doença policística do fígado, que pode demandar uma incisão mais ampla em alguns casos). 

Os dois tipos mais comuns de incisões são: Makuuchi (incisão em “L“ invertido) e Mercedes (como o símbolo da marca Mercedes-Benz). Vale ressaltar que essas incisões devem ser bem cuidadas para evitar infecções e hérnias abdominais, por isso também recomendamos o uso de cinta abdominal no pós-operatório.

Em relação à técnica cirúrgica do transplante de fígado, destaque-se que o fígado está conectado a várias estruturas vitais do corpo e que precisam ser desconectadas e reconectadas no novo fígado durante o transplante. Essas estruturas são:

  • Veias Hepáticas e a Veia Cava
  • Veia Porta
  • Artéria hepática
  • Via biliar (às vezes pode ser necessário colocar um dreno dentro da via biliar, chamado de T-tube, isso ocorre mais frequentemente se o órgão transplantado for um fígado bipartido)

Alguns pacientes precisarão ser submetidos a uma anastomose biliodigestiva para a reconstrução da via biliar. Nesse procedimento, a via biliar do novo fígado será conectada a uma alça de intestino, a qual por sua vez será conectada a outra alça intestinal para restabelecer o trânsito de alimentos e suco biliopancreático. Esse procedimento será indicado usualmente em transplantes por doenças específicas da via biliar (por exemplo, colangite esclerosante primária), casos de retransplantes e/ou casos selecionados onde haja indicação técnica avaliada no intraoperatório.

Todos os pacientes saem da cirurgia de transplante de fígado com um dreno abdominal — tubo que estará com uma de suas extremidades dentro do abdome e a outra fora — para avaliar o aspecto e quantidade dos fluidos que podem se acumular no período pós-operatório dentro do abdômen. Em resumo, ele irá vigiar a saída de sangue, bile e/ou ascite.

O que é feito após a cirurgia do transplante de fígado?

Após o transplante de fígado, o paciente seguirá para a unidade de terapia intensiva (UTI), onde permanecerá até ter condições clínicas de alta para a enfermaria. O tempo de internação em UTI pode variar a depender do quadro clínico e evolução do paciente no pós-operatório. 

Após o período de UTI, todos os pacientes irão para a enfermaria por uma média de mais 5 a 7 dias, também a depender da evolução no pós-operatório. 

Exames laboratoriais, aferição seriada frequente de sinais vitais e reavaliação clínica são cruciais durante toda a internação para avaliar a função do novo órgão.

Apesar de uma alternativa terapêutica curativa que apresenta excelente sobrevida, vale destacar que o procedimento não é isento de possíveis complicações e riscos.

Quais as possíveis complicações do transplante de fígado?

Entre as possíveis complicações do transplante de fígado estão:

  • Infecções: os tipos de infecções mais comum nos primeiros dias após o transplante são pneumonia, infecção urinária e infecção de ferida operatória
  • Não função primária de enxerto e necessidade de retransplante: existe a chance de o novo fígado não funcionar adequadamente, o que pode complicar a condição clínica do paciente a um estado muito grave e que pode ser irreversível; isto ocorre em 1 a 2% dos casos e o retransplante é a única alternativa para essa complicação
  • Trombose da artéria hepática e trombose da veia porta: ocorrem em uma pequena quantidade de pacientes, mas podem demandar uma reoperação, procedimentos de radiologia intervencionista ou até mesmo retransplante para solucionar o problema
  • Rejeição: o corpo reconhece o novo fígado como um corpo estranho e, por isso, episódios de rejeição podem ocorrer em 20% dos pacientes após o transplante de fígado, sendo na maioria das vezes nos primeiros 7 a 10 dias do após a cirurgia, mas também podem ocorrer após esse período; em 90% dos casos, essa complicação facilmente se resolve com medicações e não representa uma ameaça à vida do paciente ou leva ao risco de perda do órgão transplantado
  • Sangramento e disfunção renal: sangramento no pós-operatório imediato pode ocorrer, demandando, em alguns casos, reoperação para corrigi-lo; muitos pacientes podem apresentar disfunção renal no período pós-operatório, necessitando de hemodiálise por algum tempo; normalmente, a função renal é recuperada com o tempo
  • Recorrência da doença no fígado transplantado: hepatites B e C podem retornar e afetar o novo fígado transplantado, mas isso atualmente é muito raro porque as medicações contra essas doenças são muito eficazes; se a indicação do transplante for câncer no fígado, este pode retornar no seu novo fígado transplantado ou em outros locais do corpo, por isso existem critérios específicos para o transplante de fígado por câncer primário do fígado; pacientes que foram transplantados por doenças autoimunes (por exemplo, colangite esclerosante primária, hepatite autoimune) ou mesmo doença hepática gordurosa não alcoólica podem apresentar recorrência da doença
  • Complicações biliares: podem existir problemas com as vias biliares tanto nos primeiros dias após a cirurgia como também após anos do transplante de fígado, dentre elas estão os vazamentos (fístulas) e os estreitamento das emendas (anastomoses) feitas durante a cirurgia como consequência do processo de cicatrização no usualmente fino (3 mm) canal da bile; para a correção dessas complicações, muitas vezes será preciso procedimentos endoscópicos com passagem de stents ou drenos; e, raramente a realização de uma nova cirurgia será a melhor opção

Cabe ressaltar que, atualmente, todos os pacientes transplantados deverão tomar medicações imunossupressoras por toda a vida com o objetivo de evitar rejeição. Essas medicações podem apresentar efeitos colaterais, como risco aumentado para infecções, desenvolvimento de diabetes mellitus, hipertensão arterial, hipercolesterolemia e disfunção renal em graus variados. 

Após muito tempo de uso dessas medicações, existe também um risco pequeno de desenvolver algumas doenças malignas, como, por exemplo, alguns tipos de câncer de pele, leucemia/linfoma, entre outros. 

A prática de atividades físicas regulares no pós-operatório e os cuidados gerais (incluindo a alimentação e a prevenção dessas condições) são importantes mitigadores do desenvolvimento de vários desses efeitos colaterais.

A sobrevida após o transplante de fígado e o sucesso da cirurgia dependerá de inúmeros fatores como as características do órgão recebido, as condições clínicas na hora do transplante, as complicações durante a recuperação, os cuidados em casa, o uso correto das medicações, o acompanhamento com a equipe de transplante, o apoio e o amor de seus familiares e, por último, porém não menos importante, a motivação e positividade do paciente com a sua própria recuperação.

Como funciona a lista de espera para transplante de fígado e o processo de doação de órgãos de doadores falecidos?

A lista é organizada de acordo com o tipo sanguíneo (A, B, AB e O) e a pontuação obtida em uma escala de graduação da severidade da doença hepática, o MELD-Na (Model for End-Stage Liver Disease). 

A distribuição dos órgãos será realizada pelas centrais estaduais e nacional de transplante de órgãos às equipes transplantadoras, respeitando a fila pela severidade da doença de cada indivíduo e dados fornecidos na ficha de inscrição preenchida e assinada na inscrição. Ainda, são consideradas características semelhantes entre doador e receptor, como peso e altura.

O MELD é uma fórmula matemática que utiliza os exames de sangue (creatinina, bilirrubina total, sódio e relação normatizada internacional da atividade de protrombina) para identificar os pacientes que têm mais chance de falecer em um curto período. 

Quanto mais alto o MELD, mais severa é a doença hepática e, consequentemente, mais grave a condição clínica do paciente, revelando a necessidade de transplantar o mais breve possível. Em pacientes com MELD iguais, o critério de desempate é o tempo de espera na fila para o transplante.

Checando sua posição na Lista de Transplante de Fígado: tenha em mãos seu Registro Geral da Central de Transplantes (RGCT), que deverá ser obtido na Central de Transplantes ou com seu médico no dia da consulta. Verifique sua posição pela Internet, no endereço: http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/cidadao/homepage/acesso-rapido/lista-de-espera-para-transplantes 

Com relação aos doadores falecidos, estes são pacientes que apresentam morte cerebral e que a família autoriza a doação de órgãos para transplante. Para isso é importante que este tema seja discutido nas famílias e que todos manifestem em vida aos seus familiares o desejo de se tornarem doadores de órgãos ou não. 

Assim como o fígado, muitos órgãos e tecidos do corpo podem ser doados e beneficiar muitas pessoas que necessitam de um transplante.

Outros tipos de doação

  • Fígado bipartido: o órgão retirado de uma pessoa em morte encefálica é repartido cirurgicamente e, consequentemente, pode ser utilizado em dois receptores; esse pode ser um adulto e uma criança ou adulto pequeno
  • Fígado de doador com PAF (polineuropatia amiloidótica familiar): um paciente que tem uma doença metabólica hereditária, caracterizada pela deposição nos nervos periféricos de uma fibra amiloide (pré-albumina anômala), produzida por uma deficiência enzimática do fígado; como a doença tem evolução lenta e esse fígado é perfeitamente normal, fora esta condição, ele pode ser usado em um paciente com cirrose hepática grave com idade mais avançada, garantindo uma sobrevida e qualidade de vida melhores para esses pacientes
  • Doador intervivo: parte do fígado de um doador saudável (não falecido) é doado voluntariamente; nesse tipo de doação alguns critérios específicos, como, por exemplo, peso/altura, compatibilidade sanguínea e anatomia do fígado, devem ser minuciosamente avaliados
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Dra. Amanda Carvalheiro
CRM: 144.598/SP
RQE: 52807 - Cirurgia Geral
Atualmente é Cirurgiã da Unidade de Transplante de Fígado da Rede D'Or São Luiz. Atuou como Cirurgiã da Equipe HEPATO de Transplante de Fígado no Hospital Leforte , Hospital das Clínicas do Acre e Hospital Alemão Oswaldo Cruz, no Hospital Israelita Albert Einstein e na Fundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
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